Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Terça feira da vigésima nona semana do tempo comum. Já adentramos a última quinzena do mês missionário. Já avistamos no horizonte próximo, o dia maior de nossa ação cidadã: votar pela vida! Olhar para a vida sofrida do nosso povo, dos povos indígenas, dos desempregados e dos que estão passando fome, e escolher entre os dois projetos distintos e antagônicos: o projeto da Morte galopante que aí está; e o projeto da vida, do sonho da esperança, da democracia, da sensatez, em que vamos voltar a ser felizes de novo. A escolha está em nossas mãos e não há como fugir a esta responsabilidade. Como herdeiros do projeto salvífico de Deus, somos pela vida e vida plena para todos. Esta é a missão de todos nós!

Sermos porta-vozes da esperança! Esperança que nos faz sonhar esperançando e fazendo acontecer o sonho de Deus para os seus filhos e filhas. Esperança viva que sobrou na vida de um dos primeiros seguidores de Jesus de Nazaré. Hoje fazemos memória do Evangelista São Lucas (9 d.C.-84 d.C.) Nasceu em Antioquia, na Turquia e morreu longe de sua terra natal, em Tebas, na Grécia. Foi companheiro dedicado do apóstolo Paulo nas suas andanças, divulgando com a vida as palavras e os ensinamentos de Jesus. É ele o santo padroeiro e protetor dos médicos, por este motivo, celebramos hoje também a vida de todos os médicos, sobretudo daqueles que fazem de sua profissão/missão uma vocação de servir aos doentes num momento em que mais necessitam de cuidados.

Lucas escreveu o seu evangelho e também os Atos dos apóstolos. O terceiro e o quinto livros respectivamente do Novo Testamento. Lucas é o evangelista que narra com absoluta propriedade a infância de Jesus. Por causa de sua dedicação especial aos empobrecidos, aos marginalizados e aos excluídos, vítimas das injustiças do sistema político, econômico e religioso da Palestina do primeiro século, ele é chamado o evangelista da misericórdia. Aliás, este foi o rosto maternal de amorosidade de Deus que Jesus veio nos revelar: Deus pleno de amorosidade e misericórdia para com os seus. Um Deus que assumiu o lado dos pobres e com eles veio morar, fazendo-se um deles com eles. Ternura e compaixão em forma de amorosidade.

Estando em pleno mês missionário, um dia especial a ser lembrado como envio de todos nós em Missão. O texto escolhido para este dia não podia ter sido melhor. Jesus sendo claro, sucinto e objetivo, fazendo de nós os continuadores de sua missão: “O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir”. (Lc 10,1). A missão de jesus sendo atividade a ser desenvolvida por todos nós, indo onde Ele mesmo devia ir. Responsabilidade que recai sobre os nossos ombros, pois diante desta perícope (recorte ao redor), somos designados para sermos os anunciadores da Boa Nova com Jesus. Anunciar a Boa Nova do Reino e não a nós mesmos, como alguns de nós assim o fazemos, numa verdadeira egolatria (culto a si mesmo).

A literatura bíblica geralmente está repleta de simbologias. Mais do que números, eles querem expressar algo que vai além da numerologia em si. O significado dos setenta e dois que são enviados é também simbólico. Indica infinitude e plenitude, já que todos e todas, somos enviados/as em Missão a partir da fé em Jesus, o Cristo. De maneira geral, todos os que fomos batizados, somos enviados a dar testemunho do amor de Deus, através do seguimento de Jesus de Nazaré. Anunciar a Boa Nova, através do nosso viver neste mundo. Ao passar pela Paixão, Morte e Ressurreição, Ele se faz presente em nós e por nós nas ações do dia a dia. Com este texto de hoje, o evangelista Lucas quer nos dizer que a nossa Missão como cristãos na sociedade é a consequência primeira da nossa fé na pessoa do Cristo Ressuscitado.

A nossa responsabilidade se redobra ainda mais quando adquirimos esta consciência de que estamos ligados à pessoa de Jesus. Não agimos por nós mesmos, mas temos um projeto a seguir. Tudo seria muito diferente se abraçássemos esta Missão como algo designado pelo próprio Jesus que nos envia: “ir aonde ele devia ir”, testemunhando o Evangelho da vida. Não fazer da missão de testemunhar o Reino como aqueles que foram numa das celebrações, para importunar o arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer, sendo chamado de comunista, por estar usando uma batina vermelha, mal sabem que este é um traje típico dos cardeais. É, os tempos são outros! O discurso de ódio, o desrespeito ao outro e a ignorância cega de alguns, faz a vida ser mais triste. Ainda bem que vamos vencer o medo e as forças da morte e voltar a ser quem somos: livres para amar e sonhar! “Amanhã vai ser outro dia!” nós vamos fazê-lo assim, sonhando o mesmo sonho de Jesus. Como diria o psicanalista Rubem Alves (1933-2014): “Quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente. Mas morrerá em pleno vôo”.