27 de dezembro, Oitavas do Natal.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

O clima ainda é de Natal. Neste tempo litúrgico que transcorre do dia 25 de dezembro e vai até o dia 1º de janeiro, compõe os oito dias em que viveremos a exultação da Festa do Nascimento de Jesus Menino. Este período litúrgico das Oitavas do Natal está historicamente relacionado com a Oitava da Páscoa do Cristo Ressuscitado. Um dia especial na História da Igreja, porque no dia de hoje, celebramos a Festa de São João Evangelista e um dos doze apóstolos do Mestre.

A palavra evangelista que dizer: “Deus é misericordioso”. João, um homem predestinado. Um simples pescador nascido em Betsaida, que vai ocupar um lugar de destaque entre os apóstolos. Um exímio escritor, a quem é atribuído o quarto Evangelho e também as três epístolas de João, bem como o livro do Apocalipse. Um homem cujo coração traz as marcas do amor divinal, revelando-nos a amorosidade de Deus. Isto está muito claro em seus escritos. Não é à toa que se referem a ele como o discípulo que Jesus amava (Jo 13,23). Juntamente com Jesus, ambos revelam a face amorosa do próprio Deus. A amorosidade de um Deus que veio semear o amor em nossa história humana.

João é uma das figuras mais emblemáticas da História do Cristianismo. O Amor em pessoa. É ele que aparece ao pé da Cruz, ao lado da Mãe, a quem Jesus se dirige de forma extremamente generosa, num de seus últimos suspiros: “Filho, eis aí a tua mãe”; e olhando para Maria disse: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19,26). Ambos se consolando diante daquela tragédia aos seus olhos nus. Nesta cena está prefigurada que todos nós herdamos Maria como a Mãe da toda a humanidade, uma vez que a mãe de Jesus representa todo o povo da Antiga Aliança que acreditou nas promessas à espera do Salvador. E na pessoa do discípulo amado (João), está representada o novo povo de Deus, formado por todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão a Jesus e ao seu Projeto Libertador.

O amor é a essência de toda a nossa vida. É através da prática deste amor que fazemos a diferença em nossas vidas. O que caracteriza o discipulado de Jesus não é o cumprimento de leis, preceitos, normas, dogmas, mas o amor sem medidas. Jesus soube transmitir este amor em pessoa. João é aquele que revela no seu jeito de ser a essência deste amor que vem de Deus. Ele até nos recomenda da seguinte maneira: “Queridos amigos, amemos uns aos outros porque o amor vem de Deus. Quem ama é filho de Deus e conhece a Deus”. (1Jo 4,7) O centro da vida é a prática do amor. Neste sentido, João deixa claro para nós que o julgamento de Deus será feito sobre a prática do amor vivida ou não. (Mt 25,31-46).

A certeza que temos de que Deus nos ama faz toda a diferença em todos os acontecimentos de nossas vidas. Podemos afirmar que a medida do amor de Deus é a medida da nossa abertura também a este amor. Com santo Agostinho poderíamos até dizer: “a medida do amor é amar sem medida”. Deus nos ama sempre e muito, porém o sentir o seu amor, está na nossa capacidade em acolhê-lo. Por isso, precisamos ter plena certeza deste Amor incondicional que nos faz também amar a Deus e aos nossos irmãos e irmãs. Concretamente, o nosso amor por Deus é o resultado do Seu amor agindo em nós e por nós. Ou seja, somos amados por Deus para amar o próximo com a mesma intensidade.

Nos seus escritos, João destaca uma característica do amor de Deus: ama “por primeiro”. Esta é também uma das revelações de Jesus: Deus é pleno de amorosidade (misericórdia). Deus que toma a iniciativa e vem ao nosso encontro. Nunca devemos nos esquecer de que o amor gera compromisso e não podemos nos abdicar desta prerrogativa. Este amor tem que transbordar em ações concretas à serviço do Reino de Deus. Quem ama, cuida! Maria que cuida de João! João que cuida de Maria! Quem ama, acolhe! Quem ama, perdoa! Quem ama, não se infla de ódio e rancor! Quem ama, defende a vida para todos e todas! A liturgia de hoje conclui para nós que Jesus está vivo. Não o histórico Jesus de Nazaré, mas o Cristo da fé, o pós-pascal. Daqui por diante, Ele está presente no mistério da vida de Deus, e torna-se presente e atuante através do anúncio feito por aqueles que n’Ele acreditamos. E viva o amor! Viva João, o evangelista cheio de amor!