FRANCISCO (CHICO) MACHADO. ESCRITOR E MISSIONÁRIO.

Quinta feira da 30ª semana do tempo comum.

A Igreja no dia de hoje, celebra a festa de São Simão e São Judas Tadeu. Dois dos personagens que fazem parte do núcleo central da nova comunidade que Jesus veio criar. São os chamados apóstolos, que quer dizer, aqueles que Jesus envia à sua frente, para dar continuidade a sua missão messiânica como seguidor d’Ele. Uma escolha feita a dedo e com o coração, depois de estar em sintonia com Deus-Pai, em forma de oração. Um Jesus orante, conforme nos relata o evangelista Lucas: “Jesus foi à montanha para rezar” (Lc 6,12). Ele que rezava sempre, sobretudo antes das principais decisões a serem tomadas.

A missão não está individualizada em Jesus. Ela se faz por intermédio de outras pessoas que, ao serem chamadas, aderem ao Projeto de Deus, revelado em Jesus. Ele busca e encontra pessoas que sejam capazes de ser “um com Ele” na caminhada de libertação. Não se trata de pessoas especiais, mas gente do meio do povo. Pessoas simples e cheias de limitações. Foi assim com os primeiros seguidores e é assim também com cada um de nós. Para tanto, requer que façamos a nossa adesão livre e consciente, sabendo que Deus necessita de cada um de nós, para fazer acontecer o Reino que começa no aqui e agora de nossa história.

A vida é feita de escolhas. Cada um e cada uma de nós, vamos fazendo as nossas escolhas ao longo da vida. Ninguém passa pela vida, sem que faça as suas escolhas. Escolhas estas que vem acompanhadas também das nossas decisões pessoais. Engana-se quem pensa que não tem necessidade de fazer escolhas na vida. Ao contrário, todas as nossas escolhas, são permeadas pelas opções que vamos escolhendo. Quem assim não pensa, escolhe o lado errado, como se fosse possível manter-se numa posição de neutralidade. Quem não escolhe o lado, escolhe o muro. Como já sabemos, o muro tem dono. Pertence ao “diabolus”, na verdadeira acepção da palavra em latim – é aquele que não soma, mas divide.

Jesus tinha lado: o lado dos pobres. Ele era pobre. Fazia questão de estar ao lado deles, de conviver com eles. Se misturar com eles. Em Jesus, Deus faz a escolha de estar com os pobres e com eles fazer a história acontecer. A opção de Jesus é clara e remete à todas as suas ações, no meio dos esquecidos. “Jesus é o subversivo de Deus”, dizia-nos nosso bispo Pedro. Com esta sua decisão, Ele subverte o sistema politico, econômico e religioso de sua época. Não é atoa que a sua missão messiânica começa pela Galileia, a terra dos pagãos. Terra de gente pobre e excluída de todas as formas de participação: religiosa, econômica e política.

Evidentemente que, ao fazer a sua escolha e tomar a decisão acertada de caminhar com os lascados, a ralé, Jesus atrai sobre si toda a ira, a resistência e antipatia dos donos do poder da Palestina de seu tempo. Para eles, Jesus se tornara um marginal, como eram aqueles com quem Ele se misturava. O Filho de Deus andando em má companhia. Onde já se viu? Tal situação era inaceitável para a classe dominante palestinense. Ou seja, para eles, funcionava a máxima do dito popular que conhecemos hoje: “Quem com porcos anda, farelo come”.

Escolhas e decisões que também nós precisamos fazer sempre. Este é o imperativo do cristão, frente aos desafios que a vida em sociedade nos coloca. De que lado estamos nós: do lado da vida, ou dos projetos de morte, engendrados por aqueles que nos governam? Assim como Simão e Judas, também somos chamados a fazer parte do grupo de Jesus. Ao aceitar este desafio, precisamos fazer as nossas escolhas e tomar as nossas decisões. Ao tomar as nossas decisões, não nos cabe “imitar” Jesus, mas fazer o seguimento de sua proposta, dando respostas à realidade de hoje, raciocinando da seguinte maneira: o que faria Jesus se estivesse no meu lugar, com a problemática que estou enfrentando agora?

Neste sentido, não nos basta “ter fé em Jesus”, mas “ter a mesma fé de Jesus”. De opção em opção. Entre escolhas e decisões, vamos edificando a cada dia o Reino de Deus. Não apenas com palavras, mas com atitudes, gestos concretos e decisões pessoais, irmanados com Ele. Nestas horas vale uma das dicas que nos é dada pela sua Mãe nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2,5) A Mãe sabia o que estava dizendo! As mães sabem tudo! Também nós, precisamos aprender a discernir a vontade de Deus a nosso respeito, para que assim possamos ir fazendo as escolhas certas, adequando as nossas decisões, tendo em vista o Projeto de Deus. Entre escolhas e decisões, sendo instrumentos nas mãos de Deus, servindo aos que mais necessitam entre nós. Decisões feitas em forma de pequenos gestos, como nos dizia Madre Teresa de Calcutá: “O que eu faço, é uma gota no meio de um oceano, mas sem ela, o oceano será menor”.