Francisco (Chico) Machado, Missionário e escritor.

Domingo da solenidade de Pentecostes.
O grande e aguardado dia chegou. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam na terra da sombra da morte resplandeceu a luz”. (Is 9,2) Não contente de ter-nos enviado o seu Filho, Deus manda também o Espírito Santo. Fonte de luz e esplendor para todo o seu povo que tem a chance de caminhar iluminados pela força que vem do alto. “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15) Os seguidores de Jesus com a responsabilidade de dar continuidade à sua missão.

O contexto era o do primeiro dia da semana. Dia de festa grande, pois o Ressuscitado estava vivo. A força de Deus vencera as forças da morte. Todavia, o medo se apoderara dos discípulos de Jesus. De portas fechadas, amedrontados temiam a chegada dos judeus. Quem tem medo dá mostras de titubear na fé. O medo também impede o anúncio e o testemunho. Talvez por isso Jesus tenha enfatizado tanto: “Entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. (Jo 20, 19) A missão exige a integridade e equilíbrio de quem se coloca na mesma caminhada com Jesus. Ao contrário do medo, o amor incondicional, doado até à morte, é sinal de vitória e alegria. O amor vence o medo.

A noite escura do coração amedrontado dos discípulos se fez dia de luz com a presença viva do Ressuscitado. A decepção com a morte de Jesus, deu lugar ao esperançamento de sua inefável presença. O clima de medo foi substituído pela paz de Jesus com o Seu Espírito. A segurança veio com a certeza de que Ele mesmo estava ali. A sensação de dúvidas e incertezas deu lugar à confiança de um Deus que nunca abandona os seus. Deus é fiel sempre. Deus é fiel o tempo todo. Sua justiça, misericórdia e compaixão, se faz presente em cada um de nós, fortalecendo a nossa esperança nos momentos em que tudo parece estar perdido.

“Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. (Jo 20,21) Este é o desafio de uma Igreja que se faz em meio aos conflitos da história. Como o Verbo se encarnou na realidade histórica humana, somos também enviados para estar presentes na história humana. Dar testemunho com a própria vida e ação de cada dia. Mais do que ficar trancafiados nos templos, somos impelidos a testemunhar a presença viva de Jesus Ressuscitado no meio dos empobrecidos e marginalizados lá onde eles se encontram. Igreja que se faz no caminho de encontro com os sofredores e crucificados de ontem e de hoje. Igreja solidária com as mesmas causas de Jesus na pessoa dos que mais necessitam.

O templo (prédio) é importante, mas não é o mais importante. O mais importante somos nós. Somos cada um de nós, templos vivos do Espírito Santo. “Ou vocês não sabem que o seu corpo é templo do Espírito Santo, que está em vocês e lhes foi dado por Deus?” (1Cor 6,19). Nossa missão, enquanto Igreja é a de anunciar o Ressuscitado e reconhecer a presença d’Ele em cada irmão, em cada irmã que está à margem de nossa sociedade. Ser parte desta Igreja exige discernimento e lucidez evangélica, e não fazer como um determinado empresário fanfarrão, que chamou o padre Júlio Lancellotti de “bandido”, por causa de seu trabalho solidário em meio ao povo em situação de rua, promovendo um ataque fulminante ao “anjo das ruas” de São Paulo.

A Igreja nasce do sopro divino do Espírito Santo. Igreja da paz e da partilha. Igreja solidária e comprometida com os mais sofridos. Igreja que convida ao amor, como prática de justiça solidária. Igreja que ama e não se arma, promovendo a morte dos pequenos. Igreja sem medo de ser feliz na presença dos marginalizados, anunciando e denunciando todas as estruturas da morte que se escondem pode detrás dos “homens de bem”. Igreja que anda sim, na companhia das pessoas de má fama, dos pecadores, dos marginalizados, das mulheres prostituídas, dos sem teto, dos sem terra, dos sem casa, dos sem trabalho, dos sem prestígio. Igreja profética de Dom Hélder Câmara, de Dom Paulo Evaristo Arns e Pedro Casaldáliga. Igreja das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e da Teologia da Libertação com muito orgulho, sim senhor. Sem medo de ser feliz, pois o Espírito Santo está em nós. Viva Pentecostes! Viva a Igreja do povo sem medo! Viva a Igreja vermelha, regada com o sangue dos mártires da caminhada!