Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum. Julho vai se despedindo de nós com o domingo e uma “segundona” preguiçosa. Domingo é o dia do descanso semanal. Para o povo de Deus, é o “Dia do Senhor”. No Antigo Testamento, o povo semita observava o Dia do Senhor no sábado, o sétimo dia da semana, porque Deus descansou no sétimo dia depois de criar a Terra: “No sétimo dia, Deus terminou todo o seu trabalho; e no sétimo dia, Ele descansou de todo o seu trabalho”. (Gen 2,2). Todavia, após a Ressurreição de Jesus, que ocorreu no primeiro dia da semana (Mc 16,2), os discípulos começaram a observar o Dia do Senhor no primeiro dia da semana, o domingo (At 20,7).

30 de julho. Uma data especial para os amantes da poesia. No dia de hoje, nascia na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, Mário de Miranda Quintana (1906-1994). Um dos maiores poetas da literatura brasileira, influenciando gerações inteiras. Quintana pertencia à segunda geração do Modernismo. Seus poemas, expressos em uma linguagem simples, mas extremamente poética e reveladora dos sentimentos humanos, característica principal deste poeta. Em uma de suas frases ele nos alertava: “Não faça da sua vida um rascunho, poderá não ter tempo de passá-la a limpo”. Queria ser poeta para poetizar homegeando a este grande símbolo da poesia brasileira.

A vida que não pode ser feita como a um rascunho. Mesmo que tenhamos a tentação de fazer dela um esboço, com um trabalho primeiro em que posteriormente façamos as correções necessárias, antes de dar-lhe a forma definitiva, não é esta a projeção de quem quer viver na intensidade à qual fomos criados por Deus. Ele nos criou para a plenitude. Viver cada dia como único, sendo verdadeiros e na totalidade que podemos ser e dar de nós mesmos. Quem se dá por inteiro não tem tempo e preocupação de fazer da vida um rascunho, pois a autenticidade de seu ser, já lhe permite ir desenhando o modo de vida permanente, fazendo um registro positivo na história, já que “a arte de viver é a arte de conviver”. (Mário Quintana).

Viver intensamente um dia de cada vez na perspectiva do Reino de Deus, anunciado e vivido por Jesus de Nazaré. Reino de paz e justiça. Neste domingo, a liturgia nos coloca diante de Jesus, desmistificando para nós os segredos deste Reino. Estamos no final do capitulo 13 de Mateus. Ele que narra as 7 parábolas do Reino, como forma de fazer os discípulos entenderem a dinamicidade da proposta de Deus. Pedagogicamente Jesus exemplifica o Reino em três palavras-chave: tesouro escondido no campo; um comprador que procura pérolas preciosas; rede lançada ao mar. A preocupação primeira de Jesus nem é a de falar do Reino, mas de levar os seus interlocutores a compreenderem a lógica do Reino de Deus.

Todos e todas somos convidados a fazer parte deste Reino. Reino de Deus que é para todos indistintamente, mas requer que tomemos a decisão acertada ao buscar este Reino. A decisão é de cada um, cada uma. Para entrar na lógica do Reino é necessária uma decisão pessoal e total. Todos são livres para tomar tal decisão. Fazer parte da dinâmica do Reino exige que tomemos a decisão de sermos pelo e para o Reino, construindo-o no dia-a-dia da história. Apegar-nos às seguranças passageiras, mesmo religiosas, que são falsas ou puras imitações, em troca da justiça do Reino, é preferir os valores supérfluos da vida, ao invés da pedra preciosa, de que fala a parábola de hoje. Como comunidade, como Igreja, somos desafiados a fazer o Reino acontecer pelas nossas ações no aqui e agora de nossa história, como o nosso bispo Pedro assim propunha: “Denunciar a iniquidade do mercado total, do consumismo desenfreado, do lucro excluidor das maiorias. Fazer da Fé cristã luz e força para combater esse sistema de iniquidade que mata de fome milhões de pessoas da grande família de Deus deve ser o papel da Igreja”.

A sorte está lançada. Reino de Deus que começa aqui e agora, mas se estende para além da natureza humana na meta-história. Reino de Deus que pressupõem o julgamento. No anúncio de Jesus, a consumação do Reino se realizará através do julgamento que separará os “bons” dos “maus”. Os que vivem a prática da justiça, anunciada por Jesus, tomarão parte definitiva no Reino; os que não vivem serão excluídos. A decisão é para hoje e agora e não pode ser adiada para um possível amanhã. É preciso decidir desde já. As parábolas revelam assim o segredo de Deus para aqueles e aquelas que têm fé e acreditam no Projeto de Deus revelado por Jesus de Nazaré. Os segredos do Reino somete os conhecem quem se propõe caminhar por este caminho com Jesus.