O Natal da ternura de Deus
(Chico Machado)

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

É Natal! Deus mais uma vez se manifesta através da fragilidade de uma criança. Da periferia de Nazaré, na Galileia, para o centro de nossas vidas. Deus, através de uma criança, vem fazer morada em nossa humanidade. A esperança de Deus vem esperançar os nossos corações, tornando-nos grávidos do amor divinal. O ventre da mãe terra está prenhe do Cristo pleroma, renovando as entranhas da humanidade. O Deus da esperança se faz esperançar nas veias do cosmos, Cristificando o Universo.

No dizer do teólogo Leonardo Boff, “Todo menino que ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser Deus. Apenas Deus quis ser menino”. Deus escolhe a porta dos fundos para fazer entrada em nossa história. É na fragilidade das pequenas coisas que Deus se Faz Verbo, Palavra Viva, mostrando-nos que é dali que brota o verdadeiro sentido da vida. Os pequenos fazendo história na História de Deus que vem ser Deus conosco. Assim, cada um de nós está grávido desta presença inefável de Deus. A transcendência imanente de Deus se faz em nós para que sejamos presenças vivas deste Deus nas relações que vamos estabelecendo.

É Natal da ternura de Deus! É nascimento. Natividade. É vida que se faz no coração da humanidade que não se sente mais abandonada. A ternura de Deus se faz presente nas atitudes de meiguice, afeto e carinho de quem abraça este Deus, e se faz amorosidade no cotidiano. Este ser fraternal de Deus nos motiva à construção de outro mundo, onde a “fraternura” passa a ser o componente principal das novas relações. Igualdade, fraternidade, partilha e solidariedade, gestos de denotam a presença amorosa de Deus em nós.

É Natal! Natal do menino que já nasce Deus. Da periferia para o centro ontológico de cada um de nós. Um menino plasmado no ventre de uma mulher, anunciando a Boa Nova da libertação dos pequenos. Um Deus que se faz humanidade no útero materno, dando-nos mostras de que Deus também é mulher. A feminilidade de um Deus, rompendo paradigmas culturais machistas patriarcais de ontem e de hoje. Um Deus que é doçura na amorosidade de uma mulher, que aceita gestar em si o Projeto Salvador de Deus. Seu ventre de mãe se faz berço da libertação, no esperançar dos pobres da terra que anseiam por vida.

Então é Natal! O dia mais que esperado pelas pessoas, cristãos e não cristãos do mundo inteiro. Vivemos o ano inteiro na expectativa da chegada deste dia. O dia em que Deus quis fazer-se menino no meio de nós. Todos alegres e festivos para mais uma festa, em que nos reunimos em torno da família, renovando os laços de fraternidade, numa vida em que todos se congratulam. Natal que vivi uma experiência diferente, ao receber da indígena Iny, Dibexia Karajá, um presépio com os caracteres da cultura de seu povo, que fizera para mim. Veio entregar-me ontem à tarde, juntamente com o seu bebezinho, depois de subir o Araguaia de barco, vindo de Santa Isabel, sua aldeia. Este gesto, já foi para mim, uma celebração viva do Natal.

Muitos dentre nós celebraremos o dia de Natal em nossas comunidades no dia de hoje. Voltaremos para as nossas casas com a consciência tranquila e o sentimento de ter cumprido o preceito. Muitos até, na volta para as suas casas, depararão com cenas de pessoas sem ter um lar, uma moradia descente para a sua família. Todavia, jamais poderemos ser indiferentes, frente a realidades como estas. Se de fato, acreditamos que o Jesus menino veio trazer-nos uma nova luz como está descrito no Cântico de Zacarias, é Deus mesmo que ilumina a condição do povo, abrindo uma história nova, que se encaminha para a Paz, isto é, a plenitude da vida.

Celebremos então a Festa da Alegria. Mas para isto, precisamos entender melhor o que esta festa quer significar para todos os filhos e filhas de Deus. Jesus se faz presente na fragilidade de uma criança, que nasce num contexto de absolta pobreza. É na simplicidade desta criança, que virá, o Deus ternura, cheio de misericórdia, anunciando-nos uma nova perspectiva de vida. Enquanto algumas pessoas dentre nós, querem se tornar deuses e deusas, o Deus verdadeiro se encarna em nossa realidade, através de uma criança pobre e indefesa no seio daquela família pobre de Nazaré. Deus se fazendo presença, para que possamos ser “presentes” para todos aqueles e aquelas que convivem conosco. Estamos vivos! É Natal! Celebre a vida, sua e d’Ele. Brinde as suas conquistas. Se inunde de esperançamento. Feliz e abençoado Natal!