Sábado da vigésima sétima semana do tempo comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

O segundo final de semana do mês missionário chegou. Conscientemente ou não, estamos aqui neste mundo cumprindo a nossa missão, já que todos e todas fomos chamados/as por Deus. Ser missionário não é apenas sair pelo mundo anunciando a Palavra, mas trazer dentro de cada um de nós esta Palavra viva. Neste sentido, o maior instrumento de nosso ser missionário não é a voz, como alguns até possam pensar, mas o testemunho coerente de vida e o exemplo de nossas ações sejam em qualquer realidade estivermos. Necessitamos mais de testemunhas fieis que de pregadores eloquentes desencarnados. “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8). Trazemos em nós o mesmo Espírito que guiou toda a missão de Jesus. Através do nosso testemunho, Jesus ressuscitado continua presente e atuante dentro da história.

Um sábado atípico e diferente dos demais dias anteriores. Em consequência das águas da chuva que caíram abundantemente nestes dias, o amanhecer foi leve e distinto do intenso calor que predominou intermitentemente dias atrás. Motivo a mais para que as araras azuis fizessem festa em meu quintal, saboreando alegremente as doces mangas coquinho. Sua algazarra foi tamanha que me tirou da cama mais cedo que o normal, para presenciar aquela santa balbúrdia. Meu espírito franciscano entrou em êxtase, rezando com aquela obra da criação de Deus. Assim fica mais fácil entender o que quer dizer a tão falada “Ecologia Integral” do Papa Francisco.

Dia 8 de outubro é o Dia do nordestino. Um dia especial para celebrar a cultura, história e a existência deste valioso povo. Mais de 56 milhões de habitantes da segunda região mais populosa do país, formada pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Por se constituir de uma parcela considerável de nordestinos, a cidade de São Paulo aprovou em 2009 a Lei 14.952 para homenagear os nordestinos na pessoa do cantor e compositor Antônio Gonçalves da Silva, mais popularmente conhecido como Patativa do Assaré (1909-2002). Sua poesia fala por si: “Meus versos é como semente. Que nasce arriba do chão; Não tenho estudo nem arte, A minha rima faz parte. Das obras da criação”.

Palavras de sabedoria que brotam na simplicidade do chão da existência. Palavra que é vida e se faz transformação. Palavra que se faz verdade na humildade da criação. Palavra de Deus que se faz vida no sonho do ser pensado como obra da plena realização. Palavra escrita. Palavra vivida. Palavra testemunhada como fonte de realização. Palavra para ser vivida e não ser levada pelas ondas do vento. Palavra que se faz coerência na arte de viver na intensidade do coração. Palavra que não foi feita para dividir, mas para ser ponte onde transita o amor numa via de dupla mão. Como diria o Papa Francisco: “Quem constrói muros permanece prisioneiros deles. Os construtores de pontes vão avante”.

Palavra de vida que se faz mais vida na boca de Jesus. Neste sábado, a liturgia presenteia o nosso dia com apenas dois versículos extraídos do evangelho de Lucas, os quais pinçamos aqui: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”. (Lc 11, 27) Alguém da multidão exaltando a grande mulher que gestou Jesus no ventre materno e o amamentou. Sem, dúvida que esta mulher é a grande personagem da História da Salvação humana. Todavia, Jesus se contrapõe fazendo uma estranha observação: “Muito mais felizes são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”. (Lc 11, 28) Ou seja, para Jesus, o dom maior nem é contemplar a grandeza de sua Mãe, mas a capacidade daqueles e daquelas que sabem acolher a Palavra e fazer dela seu projeto de vida.

Palavra que foi feita para ser escutada, mas também para ser vivida na prática cotidiana. Ouvir a Palavra é um dom, mas dom maior é fazer com que ela seja praticada nas ações cotidianas da vida. Viver ouvindo a Palavra e a praticando conforme os anseios de Deus. Bem que Jesus nos alertou: “quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha”. (Mt 7,24) Tomar contato, ouvir e viver a Palavra é agir de acordo com a justiça do Reino. Que venha o teu Reino, Senhor! Como aprendizes de testemunhas fieis do Ressuscitado, sejamos os viventes práticos da Palavra que se faz vida em nossas vidas.

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