Quarta feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Fazemos uma pausa no Tempo Litúrgico de hoje para celebrar a memória viva de Santo Irineu. Um grande homem da História da Igreja. Bispo, mártir e doutor da Igreja. Seus escritos fez dele um dos mais importantes escritores cristãos do século II. Ele foi um dos grandes teólogos dos séculos II, influenciando também o século III. Nasceu na cidade de Esmirna, costa central da Turquia e por razões desconhecidas, veio para Lyon, na Gália. Coube ao Papa Francisco anuncia-lo como Doutor da Igreja. Foi martirizado no início do século III em Lyon. A data que a Igreja celebra hoje é a de sua morte. Sua lucidez teológica o fez afirmar: “Por causa do seu amor infinito, Cristo tornou-se naquilo que nós somos, para fazer plenamente de nós aquilo que ele é”.

Uma data importante que a Igreja nos faz celebrar, trazendo presente a vida de um homem de paz e do diálogo. Em meio a tantas intempéries e equívocos da Igreja, Santo Irineu figura entre aqueles que souberam viver a sua vida no mesmo caminho com Jesus de Nazaré. O significado de seu próprio nome já diz quem era ele, “portador da paz”, “aquele que carrega a marca da paz”. De quantos “Irineus” necessitaríamos hoje para vencer os “portadores da morte” com suas máquinas (gabinetes) do ódio? O homem da paz que era, com sua atuação, Irineu contribuiu enormemente para restabelecer a paz entre as igrejas da Ásia Menor com Roma naquele momento histórico.

Irineu foi um dos bispos que levou a sério a proposição de Jesus: “Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas”. (Jo 10,14-15) Irineu também deu a sua vida pelas ovelhas a quem servia. Entendeu ele que a única maneira de libertar-se dos opressores ou de uma instituição opressora é comprometer-se com Jesus, pois ele é a única alternativa (a porta). Jesus é o modelo de pastor: ele não busca seus próprios interesses; ao contrário, ele dá a sua própria vida a todos aqueles que aceitam sua proposta.

Em meio a tantos pastores que temos entre nós, estamos convivendo com a realidade marcada pelo falso e o verdadeiro. Quanto a isso, no texto que nos é proposto hoje pela liturgia, Jesus começa fazendo um grande alerta aos seus discípulos: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”. (Mt 7,15) Se no tempo de Jesus já haviam estes falsos profetas, enganadores dos povo, também na realidade de hoje não é muito diferente daquele contexto. Pastores carreiristas, interessados na tríplice coroa do dinheiro, poder e fama (privilégios, prazeres, regalias). E não estamos referindo aos pastores das outras Igrejas, mas àqueles que estão entranhados na instituição Igreja Católica.

Diante destes falsos profetas, falsos pastores, Jesus está dizendo também hoje para nós: “é pelos frutos que se conhece a árvore”. (Mt 7,16) É pela atuação dos pastores que sabemos que frutos serão eles capazes de produzirem. Aquelas lideranças religiosas, que se ocupam com os seus afazeres em benefício próprio de seus interesses, precisam estar mais atentos a esta fala de Jesus. Ele não quer apóstolos que se fecham sobre si mesmos, e se armam com seus “códigos morais”, seus rigorismos preceituais litúrgicos, suas vestes mirabolantes, que não trazem em si o cheiro das ovelhas. Estes estão distantes do propósito do bom pastor que dá a sua vida pelas suas ovelhas. Quando muito, dão as suas vidas pelos seus interesses egoístas individuais e por aqueles que sustentam as suas regalias. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!” (Mt 23,23)

“Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo”. (Mt 7,19) Dar bons ou maus faz parte de critério de livre escolha de cada um de nós. Entretanto, as consequências também fazem parte das nossas escolhas e opões que vamos fazendo. Seremos julgados não pela fé que temos em nós, pelas missas que “assistimos”, ou pala boa vontade que manifestamos, mas pelas ações (frutos) que formos produzindo com a nossa árvore da vida. Sermos cortados e jogados ao fogo, palavras duras ditas por Jesus que provoca divisão: para uns, suas palavras são loucura; para outros, sua ação é sinal de libertação. Por isso devemos sempre refletir: que tipo de árvore temos sido? Que frutos as nossas árvores estão produzindo? Pelos nossos frutos, seremos contados entre aqueles falsos profetas? Que as palavras ditas por São João nos ajudem a produzir os frutos desejados: “Ficai em mim e eu em vós ficarei, diz Jesus; quem em mim permanece, há de dar muito fruto!. (Jo 15,4a.5b)