Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Quarta feira da segunda semana da Páscoa.
Vamos caminhando lentamente, realizando a nossa peregrinação existencial neste mundo. O horizonte pascal se descortina à nossa frente e a nossa missão é viver intensamente cada dia como únicos. O dia de hoje não se repetirá e o de amanhã está por vir. Viver o presente como dádiva de Deus, saboreando cada instante, estabelecendo como meta a busca pela felicidade plena. Ser feliz é tudo que se quer! Apesar das incertezas, temos a nosso favor um Deus que nos ama incondicionalmente. Ele não se coloca num plano equidistante, mas se faz na nossa conjuntura histórica, através de seu Filho unigênito. O Deus que ama, ama gratuitamente. É Ele mesmo que toma a iniciativa de chegar até nós.

Mesmo que tenhamos motivos de sobra para desanimar, o que vem adiante nos aguarda com perspectivas novas. Olhar para a realidade que nos circunda, nos faz desacreditar nos humanos desumanizados e descaracterizados da essência do amor. No dia de ontem (26), por exemplo, uma cena hilária chamou a nossa atenção. Ao embarcar no Aeroporto de Brasília, um senhor disparou acidentalmente a sua arma de fogo, ferindo uma das funcionárias de uma das empresas aéreas. Cena aparentemente corriqueira, não fosse este senhor, um pastor e teólogo da Igreja Presbiteriana, que esteve, desastrosamente, à frente do Ministério da Educação (MEC). A pergunta que todos nós gostaríamos de fazer: qual é a intenção de um pastor evangélico, em portar uma arma de fogo? Certamente o pastor ignorou uma das frases ditas por Jesus a Simão Pedro, depois que este decepou a orelha de um soldado: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada pela espada morrerão!” (Mt 26,52)

Outra notícia, também estarrecedora, foi a da indígena de 12 anos, pertencente a etnia Yanomami, que foi estuprada e morta por garimpeiros, dentro do território da comunidade de Waikás, em Roraima. Esta triste informação chegou até nós, através de uma denúncia feita pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (CONDISI) A milícia garimpeira ultrapassou todos os limites toleráveis de agressão ao povo indígena Yanomami. O genocídio praticado contra os povos indígenas, precisa ser contido urgentemente. Ou seja, nossos governantes vêm cumprindo a risca aquilo que propuseram desde os tempos de palanque eleitoral. O sangue indígena derramado nestas terras clama por justiça. Até quando vamos ficar calados diante deste genocídio? Que Tupã e os Xamãs guerreiros A’uwé (Xavante) nos acordem de nossa letargia conivente!

Somos filhos e filhas do Deus amor. Descendência ancestral do Deus que é a essência do amor em Pessoa. Em Deus, o verbo amar é conjugado em todos os tempos verbais. Se Deus é amor, sua projeção se faz essência em nós, na nossa vida. É como se estivéssemos grávidos da essência deste amor divinal. O ser amorosidade de Deus chegou até nós na pessoa de seu Filho: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. (Jo 3, 16) Somos seres privilegiados por sermos amados com tamanha intensidade. Este sentimento bom inunda o nosso coração. Sentirmos amados desta forma é sentirmos também acolhidos no colo de Deus, por mais indignos e infiéis que possamos ser. Ele sai de si e nos ama na planície de nossa existência peregrina neste mundo.

Quem ama, ama gratuitamente como Deus. Quem ama não se arma. Quem é de Deus não necessita de armas letais. Sua arma é a arma do amor. Esta é a contradição maior daqueles que “seguem” Jesus, mas ao mesmo tempo necessitam se armarem como forma de se defenderem. Neste sentido é até compreensível a atitude que teve Simão, no intuito de defender o seu Mestre. Não nos esqueçamos que este discípulo era um seguidor das ideias dos zelotes, grupo judaico radical, que acreditava na luta armada contra os romanos. Tanto que este grupo esperava a vinda de um Messias guerreiro. Para Jesus o que vale é o amor. O amor a gente não vê, mas sente com o coração. O amor possui várias facetas. Cada um ama a sua maneira. Isto pouco importa. O essencial é que saibamos amar, já que o amor é a essência do nosso ser. Amar para viver e fazer os outros viverem como bem disse “O poeta da revolução” Vladimir Maiakóvski (1893-1930): “Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor”.