Quinta feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. O Tempo Litúrgico é Comum, mas a festa é deles: Pedro e Paulo. Dois expoentes maiúsculos da História da Igreja. Cada qual com a sua contribuição específica. A Solenidade que a Igreja celebra neste dia 29 de junho, retoma as raízes da fé das primeiras comunidades cristãs. Pedro e Paulo são considerados as principais lideranças do cristianismo primitivo, “os cabeças dos apóstolos”. Tudo por causa do engajamento de sua fé, o anúncio da Boa Nova, e pelo compromisso assumido no seguimento de Jesus de Nazaré, ambos dando a vida por esta causa.

Simão foi chamado pelo próprio Jesus no início de sua vida pública. Homem simples, um rude pescador, cujo nome primeiro era Simão. Natural de Betsaida da Galileia, cidade que ficava ao noroeste do lago de Genesaré, irmão do também discípulo André. Deixou tudo para seguir Jesus, apesar das dúvidas e dos percalços pelos quais passou. Esteve presente nos momentos mais importantes da vida de Jesus. Se antes se chamava Simão, Jesus lhe dá o apelido de “Cefas”, que no Aramaico “Kephas” quer dizer “pedra”. Pedro se torna a pedra angular da Igreja, apesar de sua fragilidade humana, igual a qualquer um de nós, pobres mortais, ganhando a confiança de Jesus que lhe disse: Tu és Pedro e sobre esta pedra eu construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Foi assim que Pedro se tornou o nosso primeiro Papa. É por este motivo que hoje rezamos pelo nosso Papa Francisco, para que tenha vida longa com o seu pontificado libertador, quebrando todos os paradigmas, sobretudo institucionais.

Nem tudo foi fácil na vida deste humilde pescador. De personalidade forte, sua impulsividade quase colocou tudo a perder. Todavia, era ele que falava em nome dos demais do grupo de Jesus e, se não entendia algo, não fazia cerimônia em pedir explicações e esclarecimentos a Jesus. Pedro foi o primeiro entre os discípulos a responder ao Mestre: “Senhor, para quem iremos? Somente tu tens palavras de vida eterna; nós acreditamos e sabemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,67-68). Também é dele uma das maiores profissões de fé que vemos entre o discipulado de Jesus: “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo!” (Jo 21, 15-19).

Paulo, não fez parte dos primeiros discípulos que foram chamados especificamente por Jesus no início de sua atividade messiânica. Seu envolvimento com as causas de Jesus se deu bem posteriormente. Sua conversão, de acordo com os escritos do Novo Testamento, ocorreu por volta dos anos 33-36 d.C. De perseguidor implacável dos primeiros cristãos, ele se torna um seguidor fiel de Jesus. O marco desta conversão está descrito por Lucas nos Atos dos Apóstolos: “Durante a viagem, quando já estava perto de Damasco, Saulo se viu repentinamente cercado por uma luz que vinha do céu. Caiu por terra, e ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (At 9,3-4) De perseguidor ferrenho, Paulo é chamado para ser apóstolo das mesmas causas de Jesus. Na sua conversão, a iniciativa parte do próprio Jesus.

Pedro e Paulo, dois seres humanos que, apesar de suas limitações e fragilidades aceitaram o convite de Jesus para serem apóstolos seus. Há muitos “Pedros” e “Paulos” entre nós. Da mesma maneira que eles, também somos chamados para fazer parte do mesmo grupo do discipulado de Jesus. Para tanto, não basta ter fé e acreditar em Jesus. É preciso algo mais que o próprio Jesus está a nos dizer no texto do Evangelho escolhido para o dia de hoje: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus. (Mt 7, 21) Mais do que professar e declinar a fé, é preciso viver intensamente esta fé na convivência com as outras pessoas. Entrar na dinâmica do Reino como quer Jesus, exige um posicionamento firme e decidido de cada um, praticando aquilo que se acredita. “A fé se conhece pelas obras”. (Tg 2,18)

Nem mesmo o ato de fé mais profundo demonstrado por alguém, reconhecendo Jesus como o Senhor, faz com que este alguém venha fazer parte do Reino. O ato de fé precisa ser acompanhado pelas ações. Aqueles e aquelas que acham que as suas intermináveis horas de louvor, contemplação e adoração nos templos vão lhe garantir um lugar no Reino, podem se decepcionar a partir do que fora dito por Jesus. Ou seja, o reconhecimento de Jesus como “o Senhor” se dá pelas ações práticas que cada um de nós somos chamados a desenvolver no dia a dia de nossas vidas. Jesus não se baseia em tradições ou sistemas, e sim na sua própria pessoa, que veio revelar o Plano do Pai, vivendo e praticando o que ensina aos outros. Uma boa dica nos é dada por São Francisco de Assis quando diz: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.” Amar é guardar a palavra, não escondida no coração, mas na prática cotidiana: “Quem me ama, realmente, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a ele nós viremos”. (Jo 14,23)